O Levante no Egito: E Agora José?

Quero me reportar inicialmente, apenas para ilustrar este texto, a passagem da Bíblia Sagrada, como de costume - por achar uma leitura relevante - que narra a saída do povo de Israel do Egito para a terra onde existia leite e mel, a terra prometida por Deus ao seu povo. Naquele tempo, havia um faraó que subjugava e escravizava todo o povo de Israel e, pulando algumas partes importantes desta história, depois de muitas demonstrações do poder de Deus, embora o faraó resistisse por muito tempo, porém, momentaneamente lógico, decide libertar aquele povo - dissimuladamente - pois logo em seguida, viria a persegui-los até o Mar Vermelho, passagem bastante conhecida por todos, quando se abre entre as águas um canal, permitindo a continuidade da caminhada do povo de Deus rumo a Canaã (Terra Prometida) e dizimando todo o exercito egípcio que os perseguia. 
Hoje - passados aproximadamente 3.500 anos da travessia - o povo Egípcio entra mais uma vez para a história, desta vez, se rebelando contra o faraó da contemporaneidade, o ditador por três décadas, Mubarak, desta vez, sentindo a dor e cortando na própria carne. Diante da pressão do povo subjugado e ávido por ares mais leves, soprados pela democracia em boa parte do mundo, ele decide, mesmo que tardiamente - impondo ao Egito prejuízos econômicos imensuráveis, perda de vidas que tombaram no caminho e desconfiança da comunidade internacional - deixar o poder. 

Parece que tudo caminha a passos largos para uma transição tranqüila e democrática, porem, a eleição está marcada para acontecer em Setembro e não posso deixar de colocar minha apreensão quanto à aqueles com quem, o Ex-Presidente Mubarak, deixou o comando, os nossos velhos conhecidos, mau comparando, Militares. É importante ressaltar que o Conselho Militar que estará à frente dos destinos do País, temporariamente - assim esperamos - será presidido pelo Ministro da Defesa, Hussein Tantawi, pessoa diretamente ligada ao ditador deposto. 


É no mínimo preocupante essa situação, já que a informação que se têm - segundo a imprensa internacional – é que existem muito poucos ou quase nenhum, grupos institucionalmente organizados para disputarem estas eleições, o que pode resultar na troca de seis por meia dúzia ou ainda pior, a instituição de um Governo Militar, uma troca eminentemente nociva, o que pode ter um efeito extremamente devastador, gerando mais conflitos e mortes. 


Sinceramente, penso que o resultado deste processo seja o retrocesso, algo está me cheirando mau, Militares envolvidos em processos democráticos? Não parece razoável, principalmente quando não se enxerga, destacadamente, uma liderança política com força o bastante pra fazer a disputa e conduzir o País, pós-“revolução”, que tenha a capacidade de retomar o cotidiano Político, Social, Econômico e restabelecer as relações institucionais internas e externas, fundamentais na retomada pacífica da ordem conturbada nas ultimas semanas.
Não posso deixar de reconhecer que este processo desencadeou e/ou fortaleceu, outras mobilizações de massa em todo o mundo, principalmente naquela região, buscando estabelecer o regime democrático em seus países. Essa é a parcela positiva de levantes como este, pois, apesar das perdas, sempre fica uma lição, “o poder emana do povo e para o povo”, quando internalizarmos isso, seremos todos livres das nossas amarras mentais e passaremos a enxergar o óbvio, que é tão complexo, por incrível que isso pareça. 

É hora do Egito fazer a sua, metafórica, travessia do Mar Vermelho, deixando para trás a perseguição e a subserviência e conseguir fazer da sua terra, a terra prometida que seus filhos merecem, lembrando que, ainda existe, um exercito em seu encalço e que se preciso for, o terão que enfrentar. Se necessário for, evoquem os seus deuses: Seth (tempestade e violência), quem sabe os engolindo nas areias do deserto, assim os entregando a Anúbis (deus dos Mortos e do submundo), ambos da mitologia Egípcia, mas, se preferirem uma força maior, a mesma que moveu a multidão nos últimos dias, clamem por Deus, ele irá fazer do Egito a Canaã do Nordeste Africano e a justiça e o equilíbrio, do deus egípcio Maet, serão estabelecidos no Egito. 

Ficamos aqui na torcida pela recuperação pacífica daquele País, esperando que a comunidade internacional não olhe com desconfiança para o Egito e contribua para que, o mais breve possível, seja restabelecida a total normalidade no dia a dia da população e que as principais atividades econômicas, a exemplo do turismo e da exploração de petróleo, sejam retomadas rapidamente, pois disso depende a qualidade de vida de todo um povo que não pode, em hipótese alguma, passar de uma etapa complicada e, subitamente superada, entrar numa crise que faça - todo esse processo emancipador e doloroso - uma frustração.

Share this post!

Bookmark and Share

0 comentários:

Postar um comentário